Coluna do Professor #310, por Albio Melchioretto

(Getty Images)
BLACK LIVES MATTER, QUE GOL PREMIER LEAGUE

No mesmo dia do retorno da Premier League, havia também o jogo da final da Coppa Italia. Programei-me para acompanhar ambos, mas os gestos de humanidade de Aston Villa vs. Sheffield United fez a final da Copa tornar-se uma nota de rodapé diante da iniciativa da Premier League. Se os dirigentes-coveiros da Federação Carioca de Futebol (FERJ) prestassem atenção no modelo inglês, o futebol em terra brazilis seria mais digno.

A volta do Premier League apresentou iniciativas institucionais para pensar a importância da vida. Imbecis existem lá também, a diretoria do Burley agiu rapidamente diante de uma teco-teco. Foco no que é nobre! Em vez do nome dos jogadores na camisa uma mensagem. O minuto de silêncio junto com o gesto eternizado por Colin Kaepernick ajoelhado-se teve um peso de reflexão.

Onde chegar com tais manifestações? O “nós” da mídia perpetua um racismo estrutural. Basta abrir qualquer jornal esportivo e as manchetes falam do mundo dos brancos. Reportamos um modo branco europeu de se pensar esportes e sua estrutura competitiva. O movimento internacional que reitera que as vidas negras importam é uma oportunidade importante para superar uma questão cultural profunda.

A sociedade ocidental foi construída a partir de um modelo civilizatório de exploração da força negra. Há uma dívida histórica banhada de sangue. E o esporte continua a explorar. Senão com a escravidão, com as ideias. Não temos futebol africano cotidianamente na televisão. Quando alguma competição aparece, é tratada como “futebol exótico”. Que ideia perversa.

A Copa das Nações Africanas, às vezes. Jogos das eliminatórias aqui e ali. Ano passado a ESPN mostrou um torneio da costa ocidental da África. Mas é só. Não há naturalidade e ver o outro-futebol. E quando está aqui é classificado como bizzaro. O cinema faz pensar. O filme V for Vendetta e Lacasa de Papel apontam que uma ideia é maior que uma ação. Os dois enredos são focadas na ideia. Quando chamamos futebol africano de exótico ou bizarro, evidenciamos uma ideia perversa. Estruturamos a perversidade da inferioridade. E não é de hoje.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@professoralbio
Vidas negras importam, como vidas indígenas importam, como qualquer vida importa. Falei do futebol africano. Voltei ao YouTube para buscar reportagens do Gavião Kyikategê. Poucos falam do clube a partir do futebol, a maioria explora a condição cultural dos povos originários e esquecem que o Gavião não é um time indígena de futebol, mas é um time de futebol com origem nativa. O futebol deixou de ser o foco na maioria das reportagens. Então, me pergunto, por que estruturamos o Kyikategê como exótico e vez de ser o normal?

E “nós” da imprensa temos grande culpa no processo. Criamos um território imaterial onde alguns valores exploratórios são maiores que outros. O futebol branco. O mundo eurocêntrico, a grande mídia, um modo de pensar colonizado. E tudo isso parece viver na normalidade do esporte…

Por isso, #blacklivesmatter é o chamado para todos respeitarmos a vida dos mais vulneráveis. Vidas negras importam, vidas marginais importam. Parabéns a Premeir League por institucionalizar no futebol uma discussão importante.




Postar um comentário

O que achou dessa informação? Compartilhe conosco!

Os comentários ofensivos serão apagados.

O teor dos comentários é de total responsabilidade dos leitores.

Postagem Anterior Próxima Postagem