Coluna do Professor #368, por Albio Melchioretto


A PANDEMIA ACABOU E NÃO FICAMOS SABENDO? POR UMA IMPRENSA MAIS CRÍTICA E MENOS CÍTRICA

Na segunda-feira, 24 de maio, o Galvão Bueno, no Bem-amigos do Sportv, teceu um longo comentário criticando o que ele chamou de “planeta Conmebol”. As críticas do narrador/apresentador se deram pela insistência da Conmembol em fazer jogar a Libertadores e a Copa América. O torneio de seleções teve a desistência da Colômbia, depois dos fortes protestos no país por conta das famigeradas reformas tributárias. Galvão chamou de irresponsável o fazer jogar o torneio continental quando o nacional da Argentina esteve temporariamente suspenso por conta da onda de contaminações no país vizinho.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@professoralbio
Na terça-feira, 25, Flávio Ricco, em sua coluna diária no R7, questionou Galvão, se as críticas à Conmebol se referiam apenas às competições adquiridas pelo SBT ou às eliminatórias da Copa do Mundo, cujo direito é da Globo. Questionamento válido, porém, inoportuno.

Os canais de televisão se furtam em tecer críticas mais contundentes. O esporte, de forma mais específica, prefere trazer ex-boleiros para o debate, valorizando conhecimento empírico, que aprofunda o debate com estudiosos de causa. Vi poucos médicos falando do COVID-19 e a relação com o futebol. Quando o debate se faz entre jornalistas apenas transforma o produto da casa em entretenimento e não o trata como notícia. Nos anos de 2000, quando o senador Jorge Kajuru passou pela ESPN Brasil e tinha um discurso mais aceitável, foi repreendido ao vivo por José Trajano, num Linha de Passe, após criticar o futebol europeu, “você não pode falar mal do carro-chefe da casa”, disse o então diretor. Desde então a defesa da mediocridade, em nome do produto da casa, é algo recorrente. Quantas reportagens sobre federações e confederações vimos na televisão nos últimos tempos? A crítica de Flávio Ricco tem sua validade porque os veículos mostram um espetáculo sem questionar sua idoneidade.

Ao mesmo tempo é inoportuna porque precisa-se questionar o fazer jogar em tempo de pandemia. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa vacinados tomam acentos nas praças esportivas, aqui se morre porque um governo rejeitou, no mínimo, 14 ofertas de vacinas. Isso pensando apenas no Brasil. Na Colômbia, sequer a vacina chegou no interior, e o governo está preocupado em taxar ainda mais os impostos. E o planeta Conmebol insiste em fazer jogar, a Sul-americana, teve duas rodadas com inúmeros jogos inúteis de cumprimento de tabela. Em meio ao trágico, mantêm-se as mesmas tabelas da normalidade. Mas isto não é discutido na imprensa. A crítica de Galvão é apenas a ponta do iceberg. Quando discutiremos aquilo que está submerso?

Até 17 de maio, a América do Sul contava com 26.746.979 casos confirmados de Covid-19, 16% dos casos mundiais, onde representamos 5% da população mundial. Foram confirmadas 728.238 mortes, 21% das mortes mundiais, onde 456.674 estavam no Brasil e 76.135 na Argentina, representando 62% e 10% na Argentina e juntos 72% das mortes do Continente. O Brasil possui 45% da população do continente e a Argentina 11%, juntos chegam a 56%. Estes são dados recolhidos a partir dos números da World Health Organization – WHO.

A crítica de Galvão Bueno faz sentido, mas é preciso ver que a pandemia tem um aspecto territorial. Ela mata mais em alguns lugares e menos em outros. Se o governo argentino está mais preocupado, a crítica deveria ser a Conmebol e mais ainda a CBF. Aqui se morre mais, porque não criticamos o nosso fazer esporte? “Nós da imprensa” deveríamos deixar de lado a postura cítrica e preocupar-se mais com a crítica sincera e despojada, que legitima os interesses do capital.  

Foto: Reprodução/SporTV





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