Coluna do professor #400: A presença das BETS é saudável para o futebol brasileiro?

Ricardo Duarte/Internacional

O universo das BETs causa uma preocupação. Nos últimos tempos vivemos uma enxurrada de casas de aposta online que exploram o bom vivente e o esporte. Hoje, todos os clubes da Série A, em algum lugar da camisa, levam o nome de alguma casa de aposta. A Revista VEJA, em 2023, falava numa movimentação de 15 bilhões de reais (Gil, 2023). A movimentação deve ser esta, ou maior ainda, para justificar o investimento em patrocínio e presença de mídia. A questão que levanto é, qual o valor ético da presença das casas de apostas na estrutura do futebol brasileiro?

No ano de 2021, a colunista do UOL, Milly Lacombe questionava as casas de apostas, chamando-as de um “lugar cinzento”. E utilizarei da expressão dela para pensar o espaço cinzento que ocupa no Brasil, e em outros lugares também.

Qual a garantia de lisura e transparência que se há, com a quantidade de casas e valores desconhecidos movimentados? Aposta-se no placar, no jogador, no escanteio, nas faltas, nos cartões, enfim, aposta-se em tudo. Este tipo de movimento atrai muitos interesses. Que garantia há que as apostas, ou agentes, ou promotores não estão atuando no favorecimento de acontecimentos a fim de beneficiar determinados interesses? Se isso não for uma área cinzenta, desconheço outra que seja.

Várias casas de apostas já são detentores de direitos de transmissão. Umas delas inclusive mantem um canal na “TVRO”. Com digas de apostas, análise de prognósticos, entre outras. A experiência em alguns países da Europa já mostrou esquemas de manipulação, esquemas fraudulentos de apostas e suborno a jogadores são presenças certas num espaço de tanta sedução. Na edição da Copinha de 2024, alguns jogadores mostraram prints de tentativa de interferência nos resultados.
 
Vejo a presença das casas de apostas no futebol como conflito de interesses. Talvez os clubes possam passar ilesos, mas a presença de players e a ação diretamente com jogadores apresentam um cenário que, no mínimo, pode ser questionado. A Série A, todos vêm, mas qual a fiscalização da Série C do Estadual que se joga para um público de uma meia dúzia de torcedores, sem cobertura midiática e desconhecida do grande público?

Além disto, há o envolvimento e o endividamento do cidadão comum. O futebol é uma paixão cultural nacional. O apelo e a proposta de conquista fácil atraem muitos olhares. Os estímulos são permanentes nas transmissões esportivas. A casa nunca perde. E no esquema com dinheiro, não há mágica, para alguém vencer, outro precisa perder. E, se, a casa nunca perde, quem é que nunca vence?

Referências
GIL, Pedro. MP das Casas de Aposta e o desafio de fazer lei ‘sessentona’ pegar. São Paulo, 2023. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/mp-das-casas-de-aposta-e-tem-o-desafio-de-fazer-lei-sessentona-pegar/. Acesso em: 21 abr. 2024.
LABOMBE, Milly. A estranha relação entre futebol e casas de apostas: é imoral, quer valer? São Paulo, 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/esporte/colunas/milly-lacombe/2021/07/10/a-estranha-relacao-entre-futebol-e-casas-de-apostas-e-imoral-quer-valer.htm. Acesso em: 21 abr. 2024.

Sobre o autor:
Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau.

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