![]() |
| Foto: Instagram/Oscar Piastri |
Quando penso na volta da Fórmula 1 para a TV Globo, a partir de 2026 não é apenas uma questão de dinheiro pelos direitos de transmissão. Segundo apurado pelo UOL Esporte, a Record ofereceu mais, mas a questão tem maior amplitude. Foi assim, em 2020 também. Há o dinheiro dos direitos e o dinheiro gerado pelo produto, e aqui considera-se alcance e audiência.
Para pensar audiência, em 2019, nas últimas dez etapas transmitidas pela emissora, a média foi de 10,6 pontos, enquanto a Band, em 2024, registrou apenas 2,5 pontos nas mesmas condições. Para mim, esses números falam mais alto do que qualquer justificativa sobre custos ou contratos. A Fórmula 1 sempre teve público no Brasil, mas sem visibilidade nacional plena, a modalidade perdeu espaço no coração do torcedor. Com o alcance da Globo, a tendência é de que a categoria volte a ter a mesma relevância que possuía em sua era de ouro. A considerar-se o bom trabalho da Band e a forte presença no digital na atual gestão da categoria.
Eu vejo também que a estrutura de cada rede pesa muito nesse jogo. A Globo conta com 123 emissoras espalhadas pelo país, enquanto a Band possui apenas 76. Essa diferença de capilaridade explica por que o esporte alcança mais gente em uma emissora do que em outra. Não se trata apenas de quem transmite, mas de como essa transmissão chega aos cantos mais distantes do país. A Fórmula 1, para voltar a ser popular, precisa dessa presença ampla. E a Globo, por sua rede, pode recolocar o campeonato no radar de quem já nem sabia mais os horários das corridas. Globo tem audiência, alcance e sozinha possui números maiores que a soma das concorrências.
A Band representaria continuidade. A Record um tiro no escuro e a fuga de canais especializados, como foi com o BandSports e o retorno ao Sportv. Você consegue imaginar corridas de F3 na madrugada da RecordNews?
Outro ponto que não posso deixar de destacar é o peso cultural que a Globo ainda tem no esporte. Por mais que muitos critiquem, foi na tela dela que o brasileiro criou vínculos com ídolos como Senna, Piquet e Rubinho. A Band, mesmo se esforçando, não conseguiu transformar pilotos em heróis nacionais. Eu acredito que o prestígio da marca Globo, aliado à força de sua produção esportiva, pode reacender a paixão do público. Isso não é apenas sobre audiência, mas sobre memória afetiva e construção de narrativas.
Por outro lado, sei que esse movimento também levanta discussões sobre monopólio e concentração de poder. Quando uma emissora com tanto alcance retoma um produto desse porte, outras redes ficam ainda mais fragilizadas. Eu me pergunto se essa volta é uma vitória para os fãs ou apenas uma jogada comercial para reafirmar a supremacia da Globo. Afinal, a emissora sabe que a Fórmula 1 é um produto de prestígio, e não quer ver outro canal construindo uma identidade com o esporte. Mesmo que a Band retome com a F-Indy, não há comparação entre categorias.
Acredito que a volta da Fórmula 1 para a Globo pode significar uma retomada do prestígio da categoria no Brasil. Mais visibilidade, maior engajamento e um resgate da tradição que sempre existiu com o público brasileiro. Mas será que essa mudança é, de fato, uma vitória para o fã ou apenas mais um capítulo na luta pelo poder entre as emissoras?
Sobre o autor:
Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias.

