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| Foto: Rafael Ribeiro/CBF |
O futebol é um poderoso formador de identidade social. No entanto, por trás de seu caráter global e apaixonante, opera uma lógica empresarial inegável. O esporte está organizado em uma estrutura hierárquica e de gestão que espelha a de uma corporação, cujo objetivo final é o lucro. Esta constatação é crucial para entender que muitas decisões no meio não têm o torcedor como prioridade, mas sim os rendimentos que movimentam todo o ecossistema futebolístico. Como já abordado em outras colunas, o futebol é, acima de tudo, um business.
É com essa premissa que analisamos o tema de hoje: a Data FIFA. Poucos jornalistas têm destacado um dos maiores problemas desse período: as empresas que investem pesado no futebol de clubes veem sua grade de programação esvaziar-se por causa do calendário das seleções. Um exemplo recente foi a Record, que detém os direitos de transmissão do Brasileirão e não pôde exibir jogos durante o final de semana. Poderíamos citar também a X Sports, além da programação esvaziada na Band e na Globo. Em resumo, a Data FIFA se tornou sinônimo de prejuízos acumulados.
Conforme reportagem da Al Jazeera, o problema mais grave desse calendário é o impacto negativo na saúde dos jogadores. A FIFPRO e as Ligas Europeias alertam que a agenda internacional de partidas tornou-se insustentável, colocando em risco o bem-estar físico dos atletas e violando padrões internacionais de saúde e segurança. Estatísticas mostram que os jogadores têm apenas cerca de 12% do ano para descanso, o que equivale a menos de um dia por semana.
Calendários caóticos e a proliferação de competições interestaduais fastiosas desgastam o produto futebol e geram prejuízos para as emissoras do dia a dia. A expansão de torneios internacionais, como a nova versão do Mundial de Clubes com 32 equipes, só agrava essa sobrecarga. A crítica, portanto, é direcionada ao calendário imposto pela FIFA e à ganância das confederações, que não operam pela lógica do atleta e, no processo, afastam o torcedor.
Além da paralisação forçada dos campeonatos, há o complicado retorno. A rodada do Brasileirão repleta de clássicos, programada para o dia seguinte à derrota do Brasil para o Japão, é um exemplo claro. Clubes que cedem vários atletas ficam desfalcados nos treinos e podem ser prejudicados física e taticamente na retomada. Somam-se a isso os desgastes dos próprios jogadores, que enfrentam longas viagens, mudanças de fuso horário e a adaptação a diferentes métodos de treinamento, aumentando significativamente o risco de lesões.
Quem faz a gestão do futebol não gosta de futebol.
A paralisação afeta receitas com bilheteria, transmissões e patrocínios, especialmente em ligas menores ou clubes com menos estrutura. Sabemos, com as lições do “velho” Boninho, que televisão é hábito, e futebol que não gera hábito não traz espectador. O negócio é um ecossistema. Então, pergunta que fica é, há realmente necessidade de tantos jogos de seleção?
Sobre o autor:
Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias (Top 100 Education Podcasts).

