Albio Melchioretto #124: Ele chegou com a língua solta

Colunista comenta declarações de Felipe Melo direcionadas a imprensa (Fernando Dantas/Gazeta Press)
O grego antigo, do período clássico, separava o conhecimento da opinião. Além de categorizar, tratavam ambas em oposição. O conhecimento se relacionava a questões ontológicas. Para chegar ao conhecimento, o ser humano, deve caminhar da opinião, gradualmente, à ciência. A ciência, no contexto grego dos séculos anteriores a Cristo, era entendida como um processo de saber mais elaborado que o saber cotidiano (vulgar). A opinião, para o grego era algo vulgar, simplório, mediano, que pouco acrescenta ao conhecimento, se não caminhar gradualmente em algo sustentável, ela prende o homem ao campo da ignorância.

Os gregos do período clássico, ficariam horrorizados, com o show de opiniões vazias nas mídias sociais.

Dito isto, quero abordar uma polêmica (vazia ou não) da semana, a imprensa versus jogador. Esta lógica não pode fazer sentindo. Embora, algumas vezes, vivenciamos o embate. Alguns treinadores, de um passado recente, usaram desta tática. Lembro-me, inúmeras vezes, do então treinador, Leão tecer duras críticas aos jornalistas, de Luxemburgo, vociferar, de Dunga usar este pressuposto ao invés de falar do jogo e da tática, de Felipe Melo, em sua apresentação no Palmeiras, falar. Segundo o ESPN.com.br, ele disparou palavras fortes contra parte dos jornalistas, a quem acusou de "ganhar dinheiro para falar mal" dos atletas profissionais. Mas o que li em diversos veículos foi apenas esta parte. Após alguns minutos navegando por páginas e páginas que estampavam apenas esta frase, fui a fonte, e lá pude acompanhar outras coisas, e algumas inteligentes. Eis que o volante falou, "eu acho que a classe (dos jogadores) é uma classe muito desunida. Vocês, jornalistas, são muito unidos. Se um jogador fala mal de qualquer um de vocês, vocês se unem e vão contra. Nós, jogadores, somos bobos, porque temos que ser mais unidos", iniciou. E ainda, “crítica faz parte, como torcedor eu critico mesmo e faz parte, mas jamais vou falar 'esse cara é um songa-monga, um desgraçado'. É falta de respeito com ser humano.”

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@amelchioretto
Quem bom que teremos Felipe Melo. Sinto falta das pilhérias de Vampeta, o jogador, Souza, Marco Aurélio Cunha, Roque Citadini, só para citar alguns. O mundo do politicamente correto das entrevistas cansa. Ao mesmo tempo, nas mídias sociais já apareceram jornalistas e ex-jogadores-comentaristas falando, opinando, alfinetando a ação. Mas é claro, tudo na santa superficialidade líquida destes tempos, nada de conhecimento, só opinião no sentido medíocre de ser. O Casagrande, entrou na polêmica e apontou, via UOL, “nós temos o direito de fazer críticas dentro do jogo, mas nós não temos condições, nem eu que fui jogador, de julgar a qualidade do cara”. E pergunto, “e?”.

Entrevistas sinceras me interessam, parafraseando Cazuza. Mas espero, de maneira utópica, que a mídia, seja esportiva ou não, possa ir além do factual. Para de repetir palavras, ou re-narrar a entrevista, se for somente isto, não há necessidade de comentaristas. Ele, o personagem do comentarista, deve acrescer algo, nos provocar, nos fazer pensar o que há ou que está nas entrelinhas do dito e do não dito. Categorizar ações e ver aquilo que nós pobres mortais não vemos. Como diria Sílvio Luiz, “o que só você viu?”. Entrevistas sinceras me interessam, mas esta briga entre jornalistas e jogador, ou jogador e jornalista nada acrescenta, apenas poderia abastecer revistas de fofocas que estão vendidas a 1,99 na prateleira de um mercado qualquer e terminam com opinião, mas sem nenhum conhecimento.

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