Coluna do Professor #374, por Albio Melchioretto


A PATRIOTA OPORTUNISTA

Ao ler a coluna você saberá o resultado da Copa América. A coluna foi escrita minutos antes do início do jogo. Não quero falar do jogo, mas do espaço anterior a ele. Neymar, em entrevista coletiva, criticou o brasileiro que torce para Argentina e ainda xingou os brasileiros que não torcem para a amarelinha. Será que este garoto mimado sabe o que é liberdade de expressão? Marquinhos, companheiro de clube de Neymar, ao longo da semana cobrou o apoio da mídia. Apoio? A mídia está para mostrar os jogos e fazer notícias, não para apoiar. E por fim, os canais do grupo Disney, na esteira do besteirol de Neymar, usaram o patriotismo como estímulo para atrair o fã do esporte. Que saudade da ESPN Brasil dos tempos de Trajano. Falta lucidez nos canais ESPN.

Albio Melchioretto
albio.melchioretto@gmail.com
@professoralbio
O discurso do patriotismo e do amor à pátria é um descalabro e foi capturado por extremistas para entusiasmar desiludidos e desinformados. Desde a Ditadura Militar, formada com apoio da elite civil, usou do futebol e surfou na onda do Tri, conquistado no México-70, para criar um cenário ufanista. Na Argentina-78, animaram a população com o “campeão moral”. Mas a moralidade na perseguição e no cerceamento de direitos não existiu. Mas o amor à Pátria era tom, “ame-o ou deixe-o”. A hipocrisia não é de hoje. Se a preocupação patriótica tivesse sentido real, a crítica não veria ao torcedor, que não se vê representado pela seleção da CBF, mas ela viria com um protesto mais contundente contra a Copa América-21. Emitir notinha de repúdio não é patriotismo. E parece, que em meio às denúncias de corrupção que eclodem em cima das vítimas da Covid-19, exigir patriotismo no campo é hipocrisia.

Seria digno a exigência de aceleração das vacinações; vir a público e tomar a bandeira contra o negacionismo da pandemia e contra a corrupção que envolvem as decisões políticas que levaram mais de 530 mil a morte. Seria mais coerente retomar a pauta do Bom Senso FC e exigir mudanças estruturais no futebol. Esses jogadores que estão na seleção da CBF, são os melhores que há, mesmo com um ou outro questionamento, mas o fato de estar como melhor lhe dá credibilidade para lutar por um espaço mais digno e menos injusto e desigual. Mas ser patriota sentado em milhares de dólares aplicados em paraíso fiscal é muito fácil.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF




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