Coluna do professor #411: Copa 2027 chega e o Brasil mão aprendeu a fazer futebol feminino

Foto: Rafael Ribeiro/CBF

O Brasileirão Feminino começou! Com três rodadas disputadas e uma pausa neste final de semana devido à Data FIFA, a sensação é que o olhar dado ao torneio ainda é distante do tratamento recebido pelo Brasileirão masculino. Há anos, esta coluna defende uma lógica diferente para a categoria. Uma das teses é o uso estratégico de canais públicos para transmissão, como já faz a TV Brasil. Mas, para entender o abismo, vamos comparar cenários. 

No Brasileirão masculino, há dois canais abertos, opções em TV por assinatura, streaming e pay-per-view – todos os jogos são transmitidos. No feminino, a realidade é outra, apenas TV Brasil (aberta) e SporTV (fechado) transmitem a competição. Alguns clubes recorrem a seus próprios canais no YouTube, reforçando os problemas que este modelo possui, o que foi discutido na coluna anterior. 

Nas infindáveis mesas de debate esportivo, o espaço para o futebol feminino é insuficiente. Programas como "Minas de Passe" (ESPN) e "Elas com a Bola" (Record News) são exceções. A própria TV Brasil e o SporTV, detentores dos direitos, pouco exploram a modalidade. Quando o fazem, limitam-se a mostrar lances isolados, sem aprofundamento tático ou narrativa consistente. Sem pauta, não há mudança de mentalidade. 

A jornalista Marina Izidro, em artigo na Folha de S. Paulo (04/04/2024), destacou um dado alarmante: nas primeiras rodadas do Brasileirão Feminino, as placas de publicidade dos estádios estavam vazias, mesmo com empresas interessadas em patrocinar. Segundo ela, “o problema é de gestão”. Isso em um país que sediará a Copa do Mundo Feminina de 2027! 

Então, como desenvolver o futebol feminino se a gestão midiática repete equívocos antigos? A mentalidade retrógrada que trata o esporte como "produto secundário" mantém a categoria invisível. Para superar o fracasso administrativo, é preciso, assegurar a transmissão todos os jogos em plataformas acessíveis; garantir qualidade técnica equiparada ao masculino nas transmissões e criar narrativas que valorizem atletas e histórias nos programas esportivos. Ações sistêmicas, em vez de ações locais. 

Aumentar o número de participantes na Série A, passando de 16 para 20 é uma atitude louvável, mas ela não pode ser apenas uma andorinha no verão. Enquanto o futebol feminino não ocupar todas as vitrines, com a mesma grandeza do masculino, seguiremos falhando. E o prejuízo não é só esportivo, ele é cultural. 

Texto citado: 

IZIDRO, Marina. Mundial feminino no Brasil? Em vez de orgulho, há dúvidas. Londres/São Paulo, 2025. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marina-izidro/2025/04/copa-do-mundo-feminina-no-meu-pais-em-vez-de-orgulho-ha-duvidas.shtml. Acesso em: 5 abr. 2025.  

Sobre o autor: 

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias.  

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