Coluna do professor #416: Um mundial em escala regional

Foto: Divulgação/Fifa

A desigualdade no futebol é uma realidade escancarada que não pode ser ignorada. A diferença financeira entre os clubes brasileiros e europeus é gigante e esta, por sua vez, reflete-se na contratação de melhores jogadores. Com estas condições, somam-se os direitos de transmissão, patrocínios milionários e uma gestão empresarial refinada. Fatores que fortalecem ainda mais esse abismo. Enquanto isso, clubes de outros continentes lutam para sobreviver e competir em um ambiente desigual. Talvez o formato da competição com os vencedores continentais, no atual formato, estranho e regionalizado, aponta muito desta condição.  

A concentração de dinheiro no mercado europeu cria um ciclo vicioso que perpetua essa disparidade. Isso enfraquece os campeonatos locais fora da Europa, tornando ainda mais difícil para clubes sul-americanos, africanos e asiáticos se manterem competitivos. Por mais que existem exceções, é impossível negar que a estrutura econômica impede uma disputa equilibrada. O futebol, que deveria ser uma expressão universal de talento e paixão, acaba sendo dominado por um seleto grupo de clubes privilegiados. Digo isto em vista ao mundial de Clube que se iniciará na próxima semana. 

Nos últimos dias acompanhei mesas redondas projetando o sucesso dos clubes brasileiros em vários canais da televisão nacional. É fundamental lembrar que desde a vitória do Corinthians sobre o Chelsea, nenhum outro sul-americano levantou o troféu do mundial anual. As disputas são desiguais e a mídia massiva, de modo geral, ignora as diferenças e cria uma falsa expectativa.  Além do aspecto financeiro, há a questão da infraestrutura esportiva como os centros de treinamento adequados as necessidades do tempo presente, equipes médicas avançadas e metodologias de trabalho refinadas criadas a partir da ciência de dados, e por aqui, ainda se discute cartolagem e invasão de CTs.  

A FIFA e outras entidades esportivas poderiam adotar medidas para equilibrar o cenário, mas pouco é feito nesse sentido. O futebol global precisa de uma distribuição mais justa de recursos, incentivos para desenvolvimento regional e regras que dificultem a concentração extrema de talentos em poucos clubes. Sem mudanças estruturais, continuaremos a ver competições previsíveis, onde os mesmos times dominam temporada após temporada, e até mesmo na Europa observamos que “meia dúzia” de ricos concentram os títulos. Americanos, asiáticos e africanos serão coadjuvantes, e a mídia, ao reforçar uma possibilidade de favoritismo de brasileiros ignora a capacidade analítica do espectador. Neste mar ufanista, o podcast “Meio Campo” surge com uma ilha reflexiva que trata o futebol com seriedade e sem falsas expectativas.  

Para além da mídia, será que algum dia veremos um Mundial de Clubes onde todos tenham chances reais de vencer, ou o futebol seguirá refém do dinheiro? 

Sobre o autor: 

Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias.

Postar um comentário

O que achou dessa informação? Compartilhe conosco!

Os comentários ofensivos serão apagados.

O teor dos comentários é de total responsabilidade dos leitores.

Postagem Anterior Próxima Postagem