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| Crédito: Renato Pizzutto/Band |
Talvez seja exagero chamar de "era". Em geologia, uma era é um intervalo de tempo imenso no qual se formam conjuntos de rochas. É, literalmente, um "bocado" de tempo. A transmissão da Fórmula 1 pela Band, por sua vez, durou poucos anos, sequer um “bocado” de anos. O canal do Morumbi exibiu a categoria em 1980 e, depois, entre 2021 e 2025. Essas seis temporadas não configuram uma "era geológica", mas sem dúvida foram um período significativo, que marcou a história da F1 no Brasil.
Em 1970, a estreia de Emerson Fittipaldi em Brands Hatch foi mostrada pela TV Record e TV Rio. Em 1972, a Globo transmitiu a etapa extraoficial de Interlagos, enquanto outros Grandes Prêmios foram exibidos de forma irregular, alternando-se entre Tupi; Globo e emissoras independentes em pool, como a dobradinha Record e TV Rio. A partir de 1974, a Globo, então detentora dos direitos, passou a mostrar algumas corridas, cedendo ocasionalmente, conforme seu interesse na grade, se sempre respeitando o Programa Sílvio Santos (sim, ele esteve na Globo), à Tupi ou à Record. No fim de 1979, a emissora carioca rescindiu o contrato, e a Band, pela primeira vez, transmitiu uma temporada completa ao vivo e na íntegra para o Brasil. Foi o ano em que Nelson Piquet conquistou o vice-campeonato.
De modo geral, a Globo não transmite esportes; transmite brasileiros competindo. Entre 1981 e 2020, exibiu temporadas inteiras ao vivo, com raras exceções, dominicais à tarde. Após cinco anos na Band, a F1 retorna ao grupo Globo, agora abrangendo Globo, GE, SporTV e Globoplay.
O legado dessa "era" Band foi a grande aproximação com o público que o canal proporcionou. Em Interlagos-25, ouvimos a torcida gritar "Mariana, Mariana, Mariana", em demonstração de carinho e reconhecimento à repórter Mariana Becker. Além dela, Sérgio Maurício, apesar de algumas polêmicas nas redes sociais (quem nunca?), mostrou uma proximidade com o público que nenhum outro narrador havia alcançado. Não afirmo que ele seja o melhor tecnicamente, nem sei se há critérios para tal, mas o carinho com os espectadores, os laços de amizade e a forma como mencionou a mensagem de Débora e do irmão Felipe Longen no último GP revelam muito mais sobre seu caráter do que qualquer controvérsia. O carinho dos abraços é afetuoso.
O maior acerto da Band foi a montagem da equipe. Não houve inovação radical; optou-se pela segurança de profissionais experientes e, gradualmente, promoveram-se inserções oportunas e muito bem-sucedidas de outros. Algo que dificilmente o grupo Globo repetirá foi a transmissão assertiva do BandSports: das categorias de apoio as incontáveis horas do "Super Motor", lindos dias de programação ininterrupta. Da prova principal às categorias satélites, todos feitos com o maior respeito ao fã.
Erros? Sim, toda transmissão os tem: troca de nomes, frivolidades no ar, análises superficiais pautadas no momento e não na corrida como um todo... Qual transmissão está livre disso? Em qualquer ação humana, esse tipo de falha está presente. No entanto, isso não serve para desmerecer um trabalho diferenciado, que marcará a história das transmissões de F1 no Brasil. Se a Globo fizer algo próximo, será uma vitória, e duvido que consiga superar. Tomara que eu esteja enganado.
E a audiência? Como já escrevi em colunas anteriores (Coluna #351), é um tema relativo, por dois motivos: um técnico e outro comportamental. Tecnicamente, a Band tem menor penetração nacional que a Globo na TV aberta e, se considerarmos o número de downloads dos aplicativos oficiais nas app stores, a diferença é grande. Há um comportamento enraizado no Brasil que é o hábito de ligar a TV na Globo. Assim, a pior audiência da Globo em 2020 ainda é, em média, superior à maior audiência da Band nos últimos cinco anos.
Entre uma transmissão mais humanizada, próxima do público e afetuosa, e uma escolha por índices de audiência, a escolha da Liberty Media não parece deixar dúvidas. No mundo do capital números parecem mais importantes que uma era.
Boa sorte a Globo nesta nova jornada.
Sobre o autor:
Prof. Dr. Albio Fabian Melchioretto (www.albiofabian.com). Doutor em Desenvolvimento Regional. Professor pesquisador ligado a Faculdade SENAC Blumenau, editor do podcast, Tecendo Ideias (Top 100 Education Podcasts).


Mesmo nos primeiros 4 anos sem brasileiro no grid, voltei a assistir a F1 e este último ano foi um dos melhores.
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